Entre 1910 e 1950 decorrem uma série de obras, marcadas fortemente pela mudança de regime: da Monarquia para a República. Os edifícios que fechavam o Terreiro e o Jardim da Preta são demolidos, onde antes estavam alojados os membros da corte: almoxarife; camaristas; criados; farmacêuticos; guardas da cavalaria; e cozinheiros. Esses edifícios em 1913 já não existem. Com a demolição desses volumes retira-se do Palácio capacidade para receber a corte, impossibilitando simbolicamente o regresso da Família Real. Por outro lado essas demolições quebram o conceito de acesso condicionado ao Palácio para um de acesso livre.
De 1930 a 1940 os interiores do Palácio são alterados. Pretendia-se recuperar os ambientes dos séculos XV e XVI:
- os aposentos do rei D. Luís, situados na antiga sala grande do piso superior do corpo manuelino - que tinha sido dividida - recupera a sua dimensão original, com a idealização de uma Sala Manuelina com azulejos de esfera armilar e remate de flor-de-lis, símbolos associados ao rei D. Manuel I e dinastia de Avis, respectivamente;
- a sacristia que estava adossada à parede Norte da Capela é demolida, e o interior é amplamente modificado, num compromisso de se recuperar uma configuração de meados do século XV. Os frescos com pombas que estavam ocultos atrás dos altares são postos à vista, aplicando-se o motivo pela totalidade das paredes. As cores em tons de pastel, próprias de finais do século XVIII, são removidas do tecto de laço, voltando a ficar visíveis vestígios das pinturas medievais.
Com estas obras o Palácio passou a ter um circuito museológico. Os ambientes decorativos foram ajustados às necessidades de um programa ideológico para o património. Rasgaram-se portas onde antes não existiam, demoliram-se paredes e ergueram-se outras, quer para facilitar a circulação, quer para se adaptar espaços a áreas de apoio ao visitante. O velho Paço de Sintra tornou-se acessível ao público - um monumento nacional.
Vista para o Terreiro do Paço de Sintra, Postal (c.1920). É curioso verificar neste postal a designação, na parte inferior do lado esquerdo, "Palacio D. Maria Pia", que revela o período de transição. No espaço do Terreiro, antes de acesso condicionado e circundado de edifícios, circulam automóveis e pessoas livremente - o Terreiro tornou-se uma extensão da antiga Praça, esta última que também mudou de nome para Praça da República.
Na imagem da esquerda vê-se o conjunto edificado do Paço de Sintra, c.1900. Marcado a azul estão os edifícios que foram demolidos entre 1910 e 1913. A imagem da direita permite comparar. O espaço público foi aumentado e o centro da vila passa para o Terreiro do Palácio.
Fotografia de c.1913 com os edifícios já demolidos, mas ainda com a escadaria de acesso ao patamar da fonte alinhada à esquerda, e sem a construção da escadaria de acesso aos jardins.
No canto superior esquerdo um postal da Sala Manuelina, de c.1945, designada ainda como Sala de D. Luís. As outras três imagens revelam as divisões que foram demolidas para dar lugar à reconstrução de uma idealização de sala grande do paço mandado edificar pelo rei D. Manuel I - aguarelas dos antigos aposentos do rei D. Luís, executadas por Enrique Casanova, c.1889.
No postal do lado esquerdo (c.1900) pode-se ver as paredes da Capela num tom homogéneo. No lugar da janela, junto ao altar-mor, está a tribuna onde os membros da Família Real assistiam à missa. No transepto (lado direito do postal) vê-se um púlpito. No postal do lado direito (c.1945) percebem-se as várias alterações. A tribuna e o púlpito dão lugar a janelas com vidros coloridos. As paredes revestem-se de pombas. Os altares passam a ter azulejos hispano-mouriscos.
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