Aves-do-terror e o Rift Continental do Sudeste do Brasil
Café, chá, macarrão, se você já preparou algum desses sabe que o primeiro passo é esquentar a água e até deixá-la ferver, deixar que seja realizado o movimento de convecção, que nada mais é que o superaquecimento do líquido, no caso da água, que ao atingir a temperatura máxima fica subindo e descendo, num movimento de convecção. Mas o que isso tem a ver com Rift Continental?! Simplesmente tudo!
As correntes de convecção são as grandes responsáveis pelas formações do Rift. Debaixo dos continentes, às vezes há regiões onde o magma da terra tem bolhas muito quentes, e esse mesmo movimento que acontece quando fazemos o chá, ocorre com o magma nesses pontos quentes.
Esse movimento de convecção levam os pontos quentes a se aproximarem da crosta da terra em um movimento que puxa o continente pelas duas extremidades.O resultado desse processo é a ocorrência de rasgaduras no continente, que vão abrindo depressões, intituladas de Rift. Você consegue imaginar, que o mesmo processo que acontece com a água fervendo, também ocorre no interior da terra e leva a movimentação e separação de extensas massas terrestres?!
O Rift Continental do Sudeste, surgiu de um processo como esse, porém como a separação não ocorreu por inteira, ao invés de surgir um oceano, um litoral, surgiu o Rift, depressões no continente. No caso da do Brasil ela a depressão se estende por 900 km, e cai do litoral do Paraná até o Rio de Janeiro, incluindo Curitiba e São Paulo. Em resumo, o Rift Continental do Sudeste do Brasil (RCSB) nada mais é que uma extensa área de depressão,que segue a linha da costa litorânea atual.
Claro que esse processo não ocorre do dia para a noite, no caso do Rift brasileirro ele começa há cerca de 65 milhões de anos atrás, no início do processo de quebramento da Gondwana, um dos grandes continentes que se desprendeu da Pangeia. Entretanto, mesmo levando milhares de anos para formação, os Rifts contribuem muito com o aprendizado sobre os acontecimentos históricos. Isso porque, é nessas depressões que se formam no Rift que são depositados muitos sedimentos que com o tempo são capazes de formar bacias sedimentares e onde há bacias de sedimentos, é possível a existência de fósseis e é justamente o que acontece com o Rift Continental do Sudeste.
Os fósseis dessas bacias são diversos, um deles é o da Ave-do-Terror, que notadamente habitou a região após o Rift Continental do Sudeste do Brasil. Por não ser imerso em água, os estudos hoje são facilitados, além da exploração vigente de seu potencial econômico pelas formações de areia, argila, hidrocarbonetos, etc. Os fósseis são importantes aliados na busca por entendimento da história evolutiva dos seres vivos em geral. Eles dão informações importantes sobre as transformações vividas pelos seres ao longo do tempo.
Essas sedimentações deram início a um processo geomorfológico denominado Rift Continental do Sudeste do Brasil. Esse caráter geológico gerou no território brasileiro formações de relevos causadas graças a movimentos tectônicos e processos de sedimentação de formações rochosas, formando extensos vales que atualmente compõem parcelas territoriais desde, que tendem a ser preenchidos por sedimentos por que são espaços mais baixo, o acumulo de sedimentos
pela dinâmica do relevo da Terra. As Correntes de Convecção da Terra (também chamadas de Células de Convecção) são os movimentos dos fluidos internos que se realizam no manto, abaixo da crosta terrestre.
Diferentes movimentos das placas sedimentação é decorrência do rift
A Ave-do-terror!
Típica da América do sul, as chamadas Aves-do-Terror, foram aves carnívoras que viveram entre 60 e 2 milhoẽs de anos. Essa espécie tinha asas atrofiadas e uma estrutura grande, o que as impedia de voar. Outra característica das Aves do terror eram os grandes bicos em formato recurvado e com bordas cortantes. Hoje o parente vivo mais próximo dessa espécie de ave são as seriemas, que assim como as aves do terror apresentam um comportamento mais agressivo e agitado, são típicas do Cerrado brasileiro, medem cerca de 90 cm de comprimento e pesam 1,4 kg.
Sabe-se que a Ave-do-terror tinha cerca de 1,40 m de altura, chegando a 2,40 m quando esticada; além disso, o peso estimado teria sido calculado como cerca de 180 kg e o crânio possuía 60 cm. Você consegue imaginar uma ave dessas proporções vivendo nas florestas do Brasil hoje? Essas medidas se igualam a de um gorila adulto. Surreal, não?! Podemos perceber que, de cara, não se tratava de um animal pequeno e “inofencivo”. A maior espécie identificada até hoje é a Kelenken guillermoi, descoberta na Argentina. Ela poderia ultrapassar os três metros de altura e pesava algo entre 160 e 230 kg.
As aves do terror tiveram o que os paleontólogos chamam de extinção tardia. Até poucos anos atrás acreditava-se que essas aves tenham sido extintas há 2,5 milhões de anos, porém paleontólogos brasileiros e uruguaios recentemente encontraram fragmentos de ossos do membro inferior de um exemplar em um sítio arqueológico de Montevidéu, no Uruguai, que datavam 15 mil anos. Isso significa que apenas 2 mil anos antes da chegada dos humanos na América, ainda estavam vivos alguns indivíduos de Aves-do-terror. Acredita-se que a extinção do grupo foi lenta e gradual, diferentemente de outros animais, como Amonitas e dinossauros não-avianos, que sumiram totalmente da Terra após o evento de extinção em massa, há 65 milhões de anos.
O começo do fim, das Aves-do-terror, se deu através da chegada de grandes e ferozes mamíferos vindos do Norte à América do Sul, como lobos ancestrais e tigres-dente-de-sabre. O estabelecimento do Istmo do Panamá, que ocorreu há 3 milhões de anos, possibilitou a migração dessas novas espécies carnívoras de grande porte, uma vez que o Oceano Pacífico, antes ligado ao Oceano Atlântico, formava uma barreira geográfica eficiente. A dinâmica das correntes marítimas foi globalmente alterada e as Américas do Norte e Sul se conectaram após milhões de anos do rompimento da Pangeia.
Devido a esse grande Intercâmbio das Américas, a competição por recursos se intensificou, e as aves do terror não se mostraram aptas à sobrevivência sob essas novas condições. Mas não apenas as aves sofreram com os novos moradores, acredita-se que esse evento também tenha causado a extinção de megamamíferos como as preguiças-gigantes.
Ave-do-terror do MUSES
Podemos encontrar no MUSES uma réplica em resina de uma Ave-do-terror. O fóssil original foi achado na Bacia de Tremembé, no estado de São Paulo. Ele é mantido no Museu de História Natural de Taubaté, também em São Paulo, sendo este referência nos estudos sobre essas espécies.
Apesar de não ter sido encontrada aqui no Espírito Santo, essa peça, mesmo a réplica, é de fundamental importância para a história e riqueza dos registros fósseis do Brasil, uma vez que se trata de um animal típico da avifauna brasileira do Cenozóico.