<<nos afeta, assim como, afeta os gestos>>
Maria Tereza Aigner Menezes
Por que as imagens me têm? Por que meus olhos estão fixos em uma tela de uma forma que não se prendem mais ao papel? Que lugar ocupa minha autoimagem na fotografia e principalmente qual o atual status da minha relação com ela? Meus retratos correspondem ao espelho ou a expectativas que criei e que se criaram em mim nas redes onde perambulam os meus olhos? Como ela precisa ser? Ela precisa ser?
Olhos, mãos, semblantes… Todos os mecanismos ativados na visualização das imagens em rede - e logo, as imagens urgentes - deixam um rastro de seu atravessamento que marcadamente nos afeta, assim como, afeta os gestos.
Duda Viana cobre os olhos e dá espaço a um gesto cansado: a fadiga do olho que tanto vê e tão pouco se atém, enquanto Bruna Nascimento promove a des-exibição de seu rosto, em um retrato manualmente modificado pelo recorte da face, Rebecca França Viana também oculta o rosto. Os olhos somem da imagem ao passo que as mãos marcam sua presença, quando se reapresenta negando a aparição de seu semblante, um espelho ocupa seu rosto e marca a presença de outra pessoa que se apresenta pelo pé que o espelho reflete.
Heitor Andrade que não exibe os olhos marca o gesto do ver e ser visto ao propor sua sala-vitrine, com um corpo manequim que se coloca frente a tela de vista e de exibição. Seguido de um bloco de imagens dos artistas Charles Cunha, Alcides Peixe, Rejane Arruda, Fagner Febrete e Lou Sky que ao contrário dele tem presença marcada dos olhos que observam na mesma proporção que são observados pelo telespectador de formas distintas, por vezes na repetição, por outras no pixelado digital...
Por fim, CASÜ e Amanda Miranda suscitam a pergunta: o que vêem os meus olhos quando olho para fora? Uma imagem natural que mesmo sendo paisagem se submete ao formato retrato do celular enquanto é digitalmente alterada? O lazer que agora dá espaço a mais momentos conectados, porém esses, com a falsa sensação de que a companhia do outro que está ao seu lado supre a necessidade da presença, enquanto essa presença se esvai pela energia depositada nas versões virtuais de interação?
Esse conjunto de imagens que também questionam por que as imagens me têm? trazem a tona uma série de novas questões. Cada imagem desse repertório que se sobrepõe ao texto é um novo recorte que fala de sua urgência particular de ser imagem no momento em que elas saltam aos montes sobre as telas. As imagens me têm porque elas são uma realidade tão palpável ao nosso tempo que hoje mediam nossa experiência com o mundo externo às paredes de casa. Ainda assim, sem ter que dar conta de ser representação fiel da realidade, as imagens são em si, uma nova possibilidade e cada uma dessas imagens disse tudo o que o texto pretendeu dizer, de uma maneira única.