F.O.M.O - Um autorretrato.
F.O.M.O - Um autorretrato
Fear of missing out “o medo de perder algo” F.O.M.O é um autorretrato realizado em 2019 com intuito de construir uma relação entre o que acontece com a minha autoimagem, os deslocamentos do meu estado psicológico e o excesso de imagens nas quais estamos soterrados. Há um ano o retrato começava a ganhar espaço nas minhas criações artísticas e eu dispunha de uma câmera digital Canon 550D, um softbox com luz artificial e um retalho de malha preta com fundo de cena, aparatos básicos para uma fotografia iniciante e experimental, mas que puderam servir como suportes de expressão da relação de caos pessoal, saúde psicológica e autoimagem que eu vinha construindo de pertencimento social e profissional condicionada a uma suposta cobrança de pertencimento virtual. Logo, ampliei a reflexão para como nós , enquanto sociedade, estamos condicionados ao excesso de imagens que chegam até os nossos olhos e se transferem como informações decisivas sobre quem somos e sobre como devemos nos comportar. E em um sentido geral, como fotógrafa sempre me pergunto o porquê das imagens serem tão atrativas e ao mesmo tempo destrutivas nas relações sociais. Parafraseando “quem lê tanta notícia?!”, de Caetano Veloso, me pergunto: quem vê tanta imagem?! Eu, como fotógrafa, me seduzo pela criação de imagens, mas como observadora, por outro lado, me esgoto e me deixo ser bombardeada por ideias pré-concebidas de pertencimento social, político e afetivo. Esse tipo de crítica quando acontece num processo pessoal é o que busco expressar em minhas fotografias na tentativa de alcançar uma cura pessoal e coletiva quando publico nos espaços onde compartilho as imagens. Portanto, acredito que a escolha dessa fotografia para o texto “Por que as imagens me têm?” transmite junto ao título que comunica um dos sintomas da doença tecnológica de dependência digital, a Nomofobia, a experiência em excesso do universo das imagens virtuais. É um autorretrato sobre o cansaço do ver. É uma metáfora do medo de estar de fora do mundo das imagens , principalmente virtuais e, com isso, perder as relações de afeto, trabalho e posicionamento sobre qualquer debate ou notícia, mas ao mesmo tempo “necessitar” das possibilidades de transformação e visibilidades de novos modos de ser e pensar. É estar presente e ser potência, mas ao mesmo tempo esgotar-se e fragilizar-se pelo excesso do ver. Dessa maneira, torna-se um campo de batalha onde o olho deseja o contemplativo, mas ao mesmo tempo se escraviza no consumo de afetos, debates, bens materiais e culturais das telas virtuais colhendo como resultado, talvez num único gesto, o cobrir os olhos com as mãos, as nossas ferramentas de sentido no mundo. Ver e Moldar. Observar e modificar.