FÓRUM DA IMAGEM - CONSTRUÇÃO DE IMAGENS URGENTES

Jogo da Memória: vê tanto que esquece

Duda Viana

@CindereloBaiano

@CINDERELOBAIANO

@Cinderelobaiano foi realizada com uma Canon 550D, porém executada em um período do dia com baixa luminosidade e sem lente adequada para exposição de luz que havia no momento fotografado, resultando em um fotografia muito escura e que na medida em que era necessário para torná-la visível foi ganhando em preto e branco a sua forma. É uma fotografia que seguiu um curso próprio de experimentação de edição, acrescentando granulados, testando como ficaria em preto e branco para alcançar um olhar mais poético e gestual sobre o modelo e o que ele constrói de cultura visual em suas redes sociais. @Cinderelobaiano é autodeterminação e subversão de uma lógica de branqueamento da cultural visual. Esse perfil no Instagram é de um amigo que compreendeu as redes sociais como espaço de autodeterminação afrocentrada e não só entretenimento. Marcus – nome natural de Cinderelo - não é a Cinderela Baiana, personagem Loira do filme biográfico que conta a trajetória caricata de uma das dançarinas de axé do grupo “É O tchan”, grupo massificado e moldado pelo branqueamento da industrial fonográfica brasileira dos anos 90. Marcus é o @CindereloBaiano, um jovem negro reinventando e recontando a história da identidade do seu povo. Ser Cinderelo é como ser o personagem Will, referência em seu perfil nas redes, do seriado Prince of Bel-Air ou Príncipe de Bel-Air (No Brasil conhecido como um Maluco no Pedaço), uma das poucas produções audiovisuais consolidadas na cultura pop com um elenco majoritariamente negro. Assim, é nesse cenário virtual onde o “brincar” com as nossas identidades e perfis se torna um espaço de reiterar a todo momento narrativas marginalizadas, um álbum virtual de memórias que elencamos como inesquecíveis e necessárias. Desse modo, @CindereloBaiano é mais uma das identidades que se faz presente nas redes virtuais, é uma faixa escrita de manifesto em tudo que ele busca publicar e essa fotografia aconteceu como a maioria das produções pessoais acontecem, com poucos recursos, uma imagem produzida para estar insistentemente nas redes, uma fotografia sem estúdio, com uma única câmera exposta à pouca luz do dia e à vontade de @Cinderelobaiano em querer construir memória e identidade nas redes. Portanto, a fotografia @Cinderelobaiano talvez seja mais sobre o encontro do que a fotografia em si, a continuidade desse registro nas redes virtuais, onde tanto a fotógrafa quanto a pessoa fotografada não encontra um espaço para escoar o seu olhar, é uma maneira de falar sobre o encontro de ideias e percepções nas plataformas , assim como está explicitado no texto “Jogo da memória: vê tanto que esquece”, um espaço, “um laboratório de autodeterminações históricas e perspectivas de uma nova construção de identidade”. Dessa maneira, é o encontro da minha identidade fotográfica com a postura de @cinderelobaiano caminhando nas redes na perspectiva de encontrar uma cultura visual fora do padrão e curativa, debatendo em intersecção moda, beleza, comportamento, autoimagem e política.


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