As relações entre Japão e Portugal são as relações diplomáticas estabelecidas entre o Japão e a República Portuguesa. Os marinheiros portugueses chegaram ao Japão pela primeira vez em 1543, mas as relações diplomáticas entre os dois países começaram no século XIX.
Localização - Portugal (Cor Laranja) e Japão (Cor Verde)
História
A primeira afiliação feita entre Portugal e Japão começou no ano de 1543, quando os portugueses desembarcaram no Sul do arquipélago japonês. Este período ficou conhecido como o Período do Comércio Nanban, onde os europeus e asiáticos começaram por desenvolver o mercantilismo. Através da iniciativa feita pelo jesuíta Gaspar Vilela e o dáimio Omura Sumitada, Portugal funda o porto de Nagasáqui em 1571.
A expansão ao comércio aumentou a influência portuguesa no Japão, principalmente em Quiuxu, onde o porto se tornou um ponto de acesso estratégico, após Portugal ter colaborado com o dáimio Sumitada, em repelir o ataque feito pelo Clã Ryūzōji, ao porto em 1578.
Os primeiros navios portugueses atracados no Japão, traziam cargas provenientes como a seda e a porcelana da China. Os japoneses almejavam por esses bens, que foram proibidos de fazerem comércio exterior com os chineses pelo Imperador, como punição pelos ataques de piratas Wakō. Portanto, os portugueses atuaram como intermediários no comércio asiático.
Em 1592, o comércio entre Portugal e Japão passou a ser cada vez mais desafiador, por causa dos contrabandistas chineses e da chegada de navios espanhóis para Manila em 1600, os holandeses em 1609 e os ingleses em 1613.
Os japoneses estavam interessados nas armas de fogo portuguesas. Os três primeiros europeus a chegar ao Japão em 1543, foram os navegadores António Mota, António Peixoto e Francisco Zeimoto (e também presumivelmente, Fernão Mendes Pinto). Eles chegaram no extremo sul de Tanegaxima, onde apresentaram as armas de fogo para a população local. Estes mosquetes receberam o nome da cidade Tanegashima.
Como o Japão estava no meio de uma guerra civil, chamada de Período Sengoku, os japoneses coldrearam as armas portuguesas, para serem mecanismos mais leves e melhores, com um objetivo preciso. O famoso dáimio Oda Nobunaga, que praticamente unificou o Japão, fez uso extensivo das armas arcabuzes, sendo o papel-chave da Batalha de Nagashino. Após um ano, os ferreiros japoneses conseguiram reproduzir o mecanismo e começaram a produzir em massa, as armas portuguesas. E só apenas cinquenta anos depois, seus exércitos foram equipados com uma série de armas, talvez maior do que qualquer exército contemporâneo da Europa. As armas eram extremamente importantes na unificação do Japão sob Toyotomi Hideyoshi e Tokugawa Ieyasu, bem como nas invasões japonesas na Coreia em 1592 e 1597. Os europeus não trouxeram pelo comércio apenas armas, mas também o sabão, tabaco e outros produtos desconhecidos no Japão feudal.
Uma carraca portuguesa em Nagasáqui, século XVII.
Após Portugal ter feito o primeiro contacto com o Japão em 1543, um comércio de escravos de grande escala foi desenvolvido, no qual os portugueses compravam japoneses como escravos no Japão e os vendiam para vários locais no exterior, incluindo no próprio Portugal, ao longo dos séculos XVI e XVII. Muitos documentos mencionam o grande comércio de escravos, junto com os protestos contra a escravização de japoneses. Os escravos japoneses acreditavam ter sido os primeiros da sua nação a ir para Europa e os portugueses compravam grandes quantidades de escravas japonesas para trazer a Portugal, para fins de exploração sexual, como foi observado pela Igreja em 1555. O rei Sebastião temia que estivesse acontecendo um efeito negativo sobre o proselitismo católico, desde que o comércio de escravos japoneses crescia a proporções enormes, então ele ordenou que fosse proibido em 1571.
As escravas japonesas eram vendidas como concubinas e serviam em navios portugueses e comerciantes do Japão, mencionados por Luís Cerqueira, um jesuíta português, num documento de 1598. Os escravos japoneses eram trazidos pelos portugueses até Macau, onde alguns deles não eram escravizados somente pelos portugueses, mas também por outros escravos de proprietários portugueses como os malaios e africanos, que por sua vez, possuíam seus próprios escravos japoneses.
Toyotomi Hideyoshi ficou repugnado, porque seu próprio povo, os japoneses estavam sendo vendidos em massa como escravos em Quiuxu, e escreveu uma carta ao jesuíta vice-provincial Gaspar Coelho a 24 de julho de 1587, exigindo que os portugueses, siameses (tailandeses) e cambojanos, parassem de comprar e escravizar os japoneses e pediu que devolvessem os escravos japoneses que acabaram sendo enviados à Índia. Hideyoshi culpou os jesuítas e portugueses pelo comércio de escravos e como resultado, proibiu o proselitismo cristão.
Alguns escravos coreanos foram comprados pelos portugueses, que trouxeram de volta a Portugal do Japão, onde tinham estado entre as dezenas de milhares de prisioneiros de guerra coreanos transportados para o Japão, durante a Guerra Imjin. Os historiadores destacaram que ao mesmo tempo que Hideyoshi expressava sua indignação e revolta ao comércio português de escravos japoneses, ele mesmo estava envolvido num comércio de escravos em massa de prisioneiros coreanos de guerra do Japão.
Filippo Sassetti observava alguns escravos chineses e japoneses em Lisboa, entre a grande comunidade de escravos em 1578.
Os portugueses consideravam "altamente" os escravos asiáticos como os chineses e japoneses, muito mais do que os "escravos da África subsariana". Os portugueses atribuíam qualidades como a inteligência e laboriosidade aos escravos chineses e japoneses, por isso os favoreciam mais.
Em 1595 foi aprovada uma lei por Portugal, que proíbe a compra e venda de escravos chineses e japoneses.
Navio mercante japonês de influência ocidental, shuinsen (literalmente "navio de selo vermelho") de...
Língua
Como resultado da chegada portuguesa ao Japão, após um afluxo contínuo de comércio feito entre a Ásia e a Europa, o vocabulário japonês absorveu palavras de origem portuguesa, tal como a língua portuguesa da japonesa. Entre sua grande parte, estas palavras referem-se principalmente aos produtos e costumes que chegaram através de comerciantes portugueses.
De facto, os portugueses foram os primeiros a traduzirem um idioma ocidental, no dicionário Nippo Jisho (日葡辞書, Nippojisho?) (conhecido como "Vocabvlário da Lingoa de Iapam" no português antigo e "Vocabulário da Língua de Japão" no português moderno), compilado pelo jesuíta João Rodrigues e publicado em Nagasáqui em 1603.
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Quando os portugueses chegaram no Japão
Os séculos XV e XVI foram uma época de grandes expedições e conseqüentes descobertas. Após a chegada ao Brasil, em 1500, os portugueses navegaram para o Japão.
Em 1512, durante o reinado de D.Manuel I, chegam notícias de que existiria um arquipélago, na região onde o mercador italiano Marco Polo, na sua longa viagem pela China, em 1291, tomara conhecimento e que era chamado “Cipango” ou “Ji-pangu”, local onde o sol nasce, em chinês. Não era lenda, como pensavam os contemporâneos do famoso mercador.
Na época os japoneses viviam isolados, pelo fato do país não ter ligação por terra com nenhum outro, e só tinham contato com a China e Coréia, de onde receberam fortes influências culturais, como a escrita, o cultivo do arroz e o budismo. Mas a informação que o ocidente tinha do Japão ainda vinha de mercadores, que tinham circulado pelo continente chinês. “Uma ilha grande, de gente branca, de boas maneiras, formosos e de uma riqueza incalculável”, descreveu Marco Polo. A descrição deixava o novo país envolto numa névoa de fabulosas riquezas, e quando Cristóvão Colombo descobriu o Haiti, em 1492, estava convencido de que tinha chegado ao misterioso Cipango.
Já em 1540, as informações sobre o Japão estão mais claras, pois barcos japoneses ancoravam nas pequenas ilhas de Liampo (Ning-po), na costa chinesa, e lá tinham contato com mercadores portugueses. Ancoravam ali também barcos chineses de junco. Foi um desses barcos, segundo a história, que se dirigia para Liampo carregando três portugueses, que sofreu uma violenta tempestade e foi parar na ilha de Tanegashima, ao sul do Japão. A data desse acontecimento é 23 de setembro de 1543, de acordo com Teppo-ki (crônica da espingarda), escrito no Japão no início do século XVII.
Teppo-ki narra a introdução da espingarda pelos três náufragos portugueses e descreve as observações do chinês que atuou como intérprete dos estrangeiros:
“Estes homens bárbaros do sudeste são comerciantes. Compreendem até certo ponto a distinção entre superior e inferior, mas não sei se existe entre eles um sistema próprio de etiqueta. Bebem em copo sem o oferecerem aos outros; comem com os dedos, e não com pauzinhos como nós. Mostram os seus sentimentos sem nenhum rebuço. Não compreendem os caracteres escritos. São gente sem morada certa, que troca as coisas que possuem pelas que não têm, mas no fundo são gente que não faz mal”.
O padre Francisco Xavier, que se encontrava em Málaca, na China, tomou conhecimento da descoberta do Japão pelos portugueses e ao conhecer um foragido japonês chamado Anjiro (que pode ser Ângelo, um nome de batismo), tomou a decisão de ir expandir a fé cristã no novo país.
Fugindo de uma acusação de homicídio, Anjiro havia buscado refúgio no navio do capitão Jorge Álvares, que esteve no Japão em 1544. Anjiro acompanhou Francisco Xavier em 1549 ao Japão e o auxiliou no trabalho de cristianização.
Numa das passagens mais curiosas da história, Xavier viaja para Kyoto, e em apenas onze dias verificou a razão porque a catequização não progredia e os japoneses davam pouca atenção às suas palavras: era a pobreza de que fizera voto, e que aos japoneses impressionava mal. Quando soube que o daimyõ (senhor feudal) de Yamaguchi era o mais poderoso do país, dirigiu-se para lá vestindo ricas vestes sacerdotais. O daimyõ ficou impressionado e recebeu de Xavier cartas do vice-rei da Índia e do bispo João de Albuquerque, pedindo autorização para o jesuíta pregar o cristianismo ali. A autorização do daimyõ, datada de 1552, diz:
“Este documento prova que dei licença aos padres vindos do Ocidente, para encontrarem ou construírem um mosteiro a fim de espalharem a lei de Buda”. A última expressão mostra que os japoneses pensavam que se tratava de uma seita budista vinda da Índia. De fato, o daimyõ lhes deu um mosteiro budista para se instalarem.
Ao mesmo tempo que o cristianismo crescia, o comércio português também foi intensificando com o Japão. Os portugueses circulavam por vários portos e em todos faziam negócios. No Japão compravam prata, cobre, objetos laqueados e espadas. E vendiam sedas e ouro adquiridos na China. Em pouco tempo, Portugal passa a ser o único país a intermediar negócios entre o Japão e a China.
Apesar dos acontecimentos que se seguiram, como a chegada dos holandeses, a expulsão dos portugueses, o fechamento dos portos e o completo isolamento do Japão, a influência portuguesa no Japão pode ser vista ainda na atualidade. E não somente em Nagasaki, onde a presença portuguesa foi mais forte e demorada, mas em todo o arquipélago; atravessando o mar e chegando, curiosamente até o Brasil.
Como um simples exemplo dessa integração, temos algumas igrejas católicas no Brasil, onde as missas são realizadas em idioma japonês, por padres japoneses ou descendentes.
Palavras oriundas do português que são usadas no Japão:
Kappa = Capa
Shabon = Sabão
Koppu = Copo
Castera = bolo de Castela
Pan = Pão
Kabocha = Abóbora da Camboja – Obs. enquanto em São Paulo, graças à presença japonesa, os feirantes chamam aquela abóbora de casca dura e escura de “kabotiá”, no Japão, em algumas regiões, a mesma é conhecida como “boburá”, derivado de abóbora.
Tempura = Tempero
Arigatou = Obrigado. Alguns estudiosos dizem que a palavra de agradecimento comum em japonês é derivado do português.
Palavras japonesas que fazem parte do português:
Biombo = Byobu
Quimono = Kimono
Judo = Judo
Caratê – Karate